No dia seguinte, de malas feitas, encaixaram-se no carro, o motorista de prontidão.
Maria da Luz olhou AM'art: estava irreconhecível, a casa sem o telhado vermelho num dos lados assemelhava-se a uma boca escancarada e sem dentes e do jardim nada restava, tudo espezinhado e amontoado como ervas daninhas.
Sentiu um aperto no peito, lembrou-se do diário escondido no meio de fios de lã e linhas de bordar, esquecera-o como um pedaço de vida que se abandona por trazer memórias de tempos muito longínquos. Na malinha de mão carregava a pregadeira de D.Lídia, muitas perguntas e ainda mais conjecturas, não sossegara o raciocinio desde que Rosmaninho lhe entregara o achado.
Se o enfeite estava enterrado alguém o quisera esconder, isso era lógico no imediato.
Mas porquê?
E esta questão não deixava de a martelar, ainda tornava mais misterioso o desaparecimento da governanta.
Viu-a distintamente a desfilar pela casa naquele cinzento agoirento, a cruz pregada sobre o lado esquerdo a brilhar... o quanto a tinha em estima pois sempre a compunha como um tique.
Então não a podía ter perdido, não tinha sido um descuido. E se estava fundo na terra...
- Maria da Luz, vamos?
Ela olhou o marido.
E de repente atravessou-lhe o espirito que Alberto tería de alguma forma intervenção no desaparecimento daquela mulher que tanto odiava.
- Vamos, não fiques assim. Quando voltarmos será uma casa nova, vais ver! Linda!
Uma casa nova cheia de fantasmas velhos e perguntas a forrar as paredes, pensou Maria da Luz e entrou no carro, deu a mão a Rosmaninho.