Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das obras mas perante o jardim devassado não quisera lá voltar.
Agora era tempo de subir a escadaria que Alberto lhe prometera, mas o desânimo das suas rosas plantadas e escolhidas com Joaquim, a pregadeira achada de D.Lídia, condicionaram-lhe a plenitude do que podería sentir no regresso.
Depois, a alteração dos cómodos com o seu quarto no piso superior fazíam-na sentir num ambiente estranho, o cheiro de tintas ainda frescas retirara todo o passado olfactivo que tinha das suas coisas. Procurou o seu caderno, encontrou-o na cesta das lãs onde o tinha deixado, uma fina película de pó a conservá-lo, intocável.
Alberto deu-lhe carta branca para comprar novos cortinados, tapetes, o que ela quisesse.
Animou-se com a novidade.
- E o jardim?
- Que tem?
- Que tem?! Achas que aquilo é um jardim? É um terreno esburacado!
- Teremos que contratar um jardineiro.
- E o Joaquim?
- Ora! Vou lá eu saber o que é feito desse pobre diabo!
- Que queres dizer com isso?
- Que não vou estar à espera que ele apareça. Teremos que arranjar outro.
- Mas eu estava tão habituada ao Joaquim...
- Maria da Luz, esse Joaquim não é o único jardineiro do mundo! Que se passa?
- Nada, nada! Mas ele percebía das minhas rosas...
- E outro virá que também perceba. Deixa, não te rales, eu trato de arranjar um homem para cuidar do teu jardim.
- Quem?
- Sei lá quem! Tens cada uma Maria da Luz!
- Podías procurar o Joaquim...
- Mas que raio! Outra vez?! Que interesse é esse pelo Joaquim?
- Nenhum! Nenhum!
Maria da Luz sentiu o rosto a escaldar-se, quase teve medo de Alberto.